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Review: Phoenix Wright

Personagens de Phoenix Wright

Bom, faz tempo já, mas acho que nunca disse aqui que comprei, junto com a Aga, um Nintendo DS. Eu estava longe do mundo dos videogames desde os 32 bits com o meu Saturn por pura falta de dinheiro para comprar um console novo. Agora finalmente estou de volta.

Mas devo dizer que nesse tempo que passou meu gosto mudou um pouco. Não tenho mais tanta paciência para jogos tipo RPG em que tem que ficar evoluindo. Odeio ficar evoluindo. Também estou mais desiludido com os jogos; muitos que antes eu gostava hoje já acho sem graça.

Mesmo assim, o DS tem muitos jogos bons – especialmente por ser o DS e ter dado uma inovada na dinâmica dos jogos em geral (não dá para negar que a Nintendo é uma das maiores “alavancas” para a criatividade dos jogos hoje em dia). Mas enfim, toda essa enrolação enorme é só para dizer que fazia tempo que eu não gostava tanto de um jogo como na época em que eu era menor. Esse jogo (série, na verdade) é Phoenix Wright.

PW é uma série de 3 jogos lançados no Japão para o GameBoy Advance (com título original de Gyakuten Saiban / Courtroom Turnabout / “Tribunal da virada” [LOL]). A Capcom resolveu portar os jogos para o DS, mas dessa vez lançou também nos EUA. O sucesso do primeiro jogo (Phoenix Wright: Ace Attorney) foi grande e inesperado e garantiu o lançamento dos dois títulos seguintes (PW: Justice for All e PW: Trials and Tribulations).

Screenshot de PW

PW é, basicamente, um simulador de advogado. Você é Phoenix Wright, um advogado recém formado trabalhando no escritório da conhecida advogada Mia Fey. Cada jogo é composto de 4 ou 5 casos. Em cada um deles um crime ocorre (assassinatos, geralmente) e você é chamado pelo suspeito para defendê-lo. Você deve então investigar a cena do crime à procura de pistas para inocentar seu cliente, e também conversar com as pessoas envolvidas. Finalmente, no julgamento, você ouve as testemunhas e procura contradições no que elas dizem. É claro que você não estará sozinho nisso; um promotor estará tentando provar a todo custo que o seu cliente é culpado.

A primeira coisa importante a se notar é que o sistema judiciário utilizado, apesar de lembrar o japonês, não tem pretensão nenhuma em representar fielmente a realidade. O ônus da prova compete ao advogado, e não ao promotor; devido à grande quantidade de julgamentos que ocorre no mundo de PW, todos os julgamentos duram no máximo 3 dias e começam no dia seguinte ao da prisão do suspeito. Por fim, além de advogado, você acaba agindo também como investigador, coletando provas sem o conhecimento da polícia, o que nunca aconteceria no mundo real. Portanto, se você é um chato e acha que o jogo tem que ser totalmente realista, não jogue PW.

A dinâmica do jogo segue à dos famosos point & click adventures; quando você está num lugar, você vê apenas uma imagem do local. Ali, você pode escolher investigar (onde você pode apertar nos objetos que você quer investigar) ou se mover para outro local (através uma lista de lugares acessíveis do lugar onde você está). Muitas vezes, no local pode estar alguma pessoa. Nesse caso, você pode conversar com essa pessoa, escolhendo um determinado assunto de uma lista (por exemplo, “the day of the crime”, “the suspect”). Finalmente, você pode apresentar uma evidência ou a foto de uma pessoa que você conheça e a pessoa com que você está conversando irá falar sobre ela.

Assim, você realiza a investigação, colhendo evidências para o julgamento. No julgamento, estarão presentes você, a sua ajudante, o promotor, o juiz e o acusado (não há júri; assim como é no Japão atualmente). O promotor chama uma testemunha e ela fala sobre o que ele perguntar. Nesse momento, começa o “cross-examination” (existe tradução para português?). Nele você pode rever tudo o que a testemunha falou. Em cada trecho você tem pode fazer duas coisas: pressionar a testemunha (“hold it!“) para esclarecer e tentar obter novas informações sobre o que ela falou; ou fazer uma objeção (“objection!“) para mostar uma contradição no testemunho. Para tanto, você deve apresentar a evidência ou o perfil da pessoa que contradiz o que a testemunha disse. Se você fizer uma objeção inválida, você é penalizado pelo juiz. Depois de um certo número de penalizações, é game over e você deve voltar para onde salvou pela última vez. Por fim, as investigações se intercalam com os julgamentos, até o dia final.

Screenshot de PW

OK, expliquei todo o sistema do jogo, mas e o jogo em si? É aqui que PW brilha. Todo esse sistema, embora criativo, seria inútil se os casos não fossem muito bem bolados. E eles são. O melhor de PW é a sua própria história.

Para começo de conversa, os personagens são sensacionais. Não tem como não gostar, odiar, rir ou não se interessar por cada um deles. Ninguém é normal, todos têm personalidades cativantes e a maioria das testemunhas têm trejeitos bizarros. O Phoenix é o típico cara que vive se metendo em frias; sempre soltando comentários sarcásticos mas não deixando de ser simpático. A sua mentora, Mia, além de ser extremamente PHODA, sempre dá uma dica nas horas de aperto quando você acha que não existe mais saída. A sua ajudante, Maya, é uma figura e vive tirando Phoenix do sério – além dela ser uma médium capaz de incorporar espíritos de pessoas mortas, o que acaba dando grandes reviravoltas em vários casos. O principal promotor, Edgeworth, é obstinado e perfeccionista, faz de tudo para conseguir um veredito de “culpado” e se irrita com o despreparo e improviso de Phoenix. O detetive Gumshoe é um tapado, mas de bom coração, que sempre acaba passando vergonha na frente do promotor ao ver que deixou passar uma pista importante e recebe um corte no salário. Existem mais personagens que aparecem nos outros dois jogos; não posso falar deles para não spoilear, mas todos são igualmente sensacionais.

Todos os casos são imprevisíveis, na maioria das vezes você não consegue saber totalmente o que realmente aconteceu até o último momento. Apesar de você sempre estar envolvido em assassinatos, o jogo não se leva a sério. Você racha de rir com as figuras que são as testemunhas. A tradução é muito bem feita; eles preferiram não traduzir tudo à risca e literalmente, e adaptaram muitas coisas. Isso já deve fazer os puristas chatos de plantão (mangás de Tsubasa e Holic vêm à mente…), mas eles fizeram a coisa muito bem feita. Existem várias referências à outros jogos e cultura pop em geral, é divertido ver quantas você reconhece (por exemplo, uma determinada testemunha fala em l33t e solta a clássica “all your base are belong to us” em determinado momento).

Personagens de PW

E as músicas. As músicas são phodásticas. Basicamente, você tem os mesmos tipos de músicas e em cada jogo tem a sua versão de cada: Lobby do tribunal, julgamento, cross-examination normal e “tenso”, objeção (quando você faz um objeção importante) e “encurralamento” quando você destrói um testemunho apontando vários contradições. A parte de investigação tem músicas mais variadas. O grande destaque são para as músicas de objeção e encurralamento, não tem como não dar um sorriso quando elas começam a tocar. Elas são tão boas que você se empolga mais ainda ao finalmente começar a mostrar os furos nos testemunhos e fica se sentido o melhor advogado do universo (ah sim, algo que esqueci de comentar: ao invés de apertar um botão, você pode gritar “hold it!” ou “objection!” no microfone, se você realmente quiser entrar no espírito da coisa).

Estranhamente, cada um dos três jogos têm um compositor diferente, mas as músicas de todos são muito boas (claro que todos têm seu favorito e o que menos gostam, para mim, o primeiro e segundo respectivamente). O compositor do terceiro jogo é Noriyuki Iwadare (*worships*), que também fez Grandia, Lunar, entre outros. Ele também é responsável pelos álbuns de arranjo (um álbum com versões orquestradas de várias músicas e outro com versões jazz).

É claro que todo jogo têm suas críticas. As principais que eu leio por aí são: não explora todo o potencial do DS (essa eu acho especialmente cretina, afinal, os jogos são ports do GBA – ainda assim, o primeiro jogo contém um caso extra, exclusivo do DS, que utiliza melhor o potencial do console), todos os jogos seguem a mesma fórmula e não apresentam muitas inovações (não muda o fato que são todos bons), e o sistema de penalização é totalmente inútil. Essa até concordo em parte, afinal não faz muito sentido encalhar num julgamento, levar um game over e ter que começar de volta do ponto onde você salvou. PW é mais um “livro interativo” do que um jogo, e você está mais nele para ler a história do que ficar evitando levar um game over. Mas de qualquer forma, você pode salvar a qualquer momento do jogo meio chunchadamente (existe um “suspend” que permite salvar a qualquer hora, só que ele não apaga o save quando você resume, então você pode usar como save normal – o único chato é que quando você salva assim, você volta para a tela do jogo). Além disso, acho que não é motivo de vergonha consultar um FAQ / detonado quando você encalhar – tem partes em que realmente você não sabe o que fazer, e perder horas na tentativa e erro é pior do que engolir o orgulho e ver o que tem que fazer.

Encerrando, PW é uma dessas coisas na qual fico frustrado por não conseguir transmitir o quanto sensacional eu acho que ela é, mas ficam aí o review e a recomendação. Se você gosta de jogos estilo visual novel / point & click; gosta de histórias de mistério e detetive; e se não tem preguiça de ler bastante (e é óbvio, se sabe inglês) então recomendo fortemente Phoenix Wright. (Embora eu suspeite, que se você for isso tudo, já tenha jogado)

Personagens de PW

Em fevereiro, será lançado o quarto jogo da série entitulado Ace Attorney: Apollo Justice exclusivo para o DS. O protagonista muda, mas com certeza o charme do jogo continuará o mesmo, por isso estou esperando ansiosamente.

Links:

  • Court Records: fansite com imagens, sprites e trilhões de coisas interessantes mais links para mais coisas interessantes
  • Galbadia Hotel: MP3 de alguns álbuns de PW (veja em Gyakuten Saiban)
  • Final Turnabout: outro site com MP3 dos álbuns

8 respostas em “Review: Phoenix Wright”

Fala sério traidor! vou mobilizar a comunidade pra boicotar seu sáitchi! Hueuheuhehue Mas fala sério, eu até acho q os rpgs estão melhorando. Vejo pelo final fantasy 12 mesmo, o jogo é gigantesco e tem zilhões de coisas pra fazer, mas é opcional. Acho que é por aí o caminho. RPGfan tinha um artigo sobre o ideal entre rpgs ocidentais e os orientais bem interessante. Algo na linha do Romancing SaGa: Minstrel’s Song ou Fable. Phoenix Wright é meio paper rpg não, tipo Carmem Sandiego. Eu já prefiro movimento e graficos e som elaborados.

Vale a pena mesmo ter um DS? Tô muito afim de comprar um, mas
tenho medo de enjoar, ou de me decepcionar com jogos bobos e/ou
fáceis demais… Tem como me dar uma opinião a respeito?
Achei legalzinhu o jogo que tem que cuidar dos cachorros e fiquei curiosa
sobre um que é de testes tipo os de Q.I. O problema é que acho que não vou ter a chance de interagir com um DS. sem antes comprá-lo…
Abraço.

Heh, imagino como devem ser lotadas as cadeias do mundo de PW. (Aparece algum detento entre as testemunhas?)

Deve ser mais interessante que um simulador de mesário em dia de sufrágio desmascarando compra de votos ou urnas eletrônicas violadas. he-he

E o que diabos esse cara tanto aponta! Esteriótio de advogado? Vai enfiar esse dedo no seu… bolso.

@Hawk: LOL. Sei lá, o que me enche mesmo é ter que evoluir. Mas aí depende muito do jogo. Eu ando totalmente por fora desses RPG’s… se eu comprar um PS2 talvez eu ressucite um pouco meu gosto pela coisa.

PW é todo parado sim… Mas sei lá, eu adoro coisas 2D e não ligo tanto para gráficos ultra modernos. Nesse sentido o DS é perfeito para mim, porque é o último reduto dos jogos 2D.

@Dani: olha, eu não sei muito qual é o seu gosto, mas eu não me arrependo nem um pouco de ter comprado o DS. Tem jogos para todos os gostos (OK… não tem muito jogos de corrida, FPS, luta…), tem vários bastante difíceis também.

O do cachorro é o Nintendogs, nunca cheguei a jogar, é um Tamagochi mais evoluído XD

O do QI é o Brain Age, é bem interessante também…

Aí não sei o que você pode fazer… tente arranjar um emprestado, ou tente dar uma olhada nos jogos que existem para ele e ver o que você gosta.

@:: LOL, aparece um, aqueles com camisa listrada e bola de ferro presa na perna XD

Phoenix Wright: Ace Mesário FTW

Valeu shinigami! Acho que vou comprar um pra curtir no verão!
Tô tri afim de comprar um com o Brian Age (gosto de desafios) o dos
cães alguns dizeram que é legal!
Esse advogado de azul parece meio canastrão…

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